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Auto-Hemoterapia, Dr. Fleming e os antibióticos...
Parte LIX - (59)
No artigo de hoje, estamos dando continuidade à "belíssima" história sobre a trajetória trágica da "terapêutica" e teratogênica talidomida, mais uma droga elaborada pela "comunidade científica", contando com o irrestrito apoio da bilionária indústria farmacêutica, leia-se, as multinacionais que mandam e desmandam no mercado de medicamentos, a nível mundial. Que coisa...
Ciência e cultura, a gente se vê por aqui! Então, não custa muito repetir: a luta contra a debilitante poliomielite (paralisia infantil) continua e a luta a favor da inofensiva AHT (auto-hemoterapia) também continua.
1º intervalo musical - "A cultura está sempre entre o dilema de ser profunda e servir a poucos, ou popular e tornar-se mesquinha". - George Santayana.
Na década de 50, a talidomida foi rapidamente prescrita a milhares de mulheres, espalhadas por todas as partes do mundo (46 países), sem circular no mercado americano. Dado o aumento do número de casos documentados, nos quais as mães tomaram a talidomida durante a gestação, foi possível identificar um conjunto de malformações atribuídas a este fármaco: ausência do pavilhão auricular; imperfeições nos músculos do olho e da face; ausência ou hipoplasia dos braços afetando o rádio; dedo polegar com três articulações; deficiências no fêmur e na tíbia; malformações no coração, nos intestinos, no útero e na vesícula biliar. Vários dados, sugerem que, o período de maior sensibilidade para uma exposição do feto à talidomida, e a ocorrência deste conjunto de efeitos desastrosos, ocorra entre o 34º e o 50º dia de gravidez.
2º intervalo musical - "A crítica é fácil, a arte é difícil". - Destouches.
Nesta altura (década de 50), os procedimentos utilizados para testar um fármaco novo, não eram tão exigentes como são atualmente, e, apesar de terem sido feitos vários ensaios com a talidomida, estes não revelaram o seu potencial teratogênico. Esta dificuldade, teria sido causada porque diferentes espécies de animais, não apresentavam o mesmo comportamento, relativamente à ação da talidomida. Atualmente, sabe-se que a teratogenicidade da talidomida não afeta os ratinhos, enquanto que os coelhos e os humanos, são muito susceptíveis aos efeitos desastrosos deste fármaco.
3º intervalo musical - "Os animais ferozes não matam nunca por prazer. Só ao homem diverte a tortura e a morte de seus semelhantes". - J. A. Froude.
Em todo o mundo, aponta-se para que tenham nascido cerca de 10.000 a 15.000 crianças vítimas dos efeitos teratogênicos da talidomida, sendo que destas, apenas cerca de 8.000 crianças terão conseguido ultrapassar o primeiro ano de vida. Apesar de se apontar este número de vítimas, muitas mais terão sido, uma vez que muitos abortos ocorreram devido à tomada deste fármaco, mas, no entanto, não ficaram assim documentados, e portanto, nunca teremos conhecimento da verdadeira escala deste desastre.
4º intervalo musical - "Grande descanso é estar livre de culpa". - Cícero.
Apesar de ter sido totalmente proibida devido aos seus efeitos teratogênicos, a talidomida reapareceu anos mais tarde, como uma alternativa no tratamento de várias doenças do foro dermatológico. Em 1965, um dermatologista israelense chamado Jacob Scheskin (a*), professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, no Hospital Universitário Hadassah, (ele também era o chefe de equipe e gerente do Hansen Leper Hospital, em Jerusalém), descobriu fortuitamente, que a talidomida apresentava grande eficácia no tratamento do eritema nodoso leproso (ENL). Ele descobriu que os pacientes com eritema nodoso hansênico, uma condição dolorosa da pele, experimentavam alívio de sua dor, tomando talidomida. Esta descoberta foi o ponto de partida para novos estudos sobre os efeitos da talidomida, sendo a sua administração para o tratamento do eritema nodoso leproso (ENL), aprovada pela FDA em 1968.
As suas características imunomoduladoras e a sua capacidade antiangiogênica, despertaram o interesse da sua utilização no tratamento de doenças inflamatórias e auto-imunes, e na regressão de diversos tipos de cancro. A capacidade de impedir a formação de novos vasos sanguíneos, que travou o crescimento dos membros a milhares de crianças no mundo, é atualmente utilizada para impedir a progressão de tumores malignos, sendo utilizada no combate de mielomas múltiplos (MM). Outras aplicações possíveis são o tratamento de infecções graves, como as sofridas por portadores de HIV e na síndrome de Behcet e, também, na amenização da letargia e náusea dos pacientes submetidos a quimioterapia.
5º intervalo musical - "Há sempre um momento em que a curiosidade é pecado". - Anatole France.
Atualmente, este fármaco é comercializado pela Celgene, com o nome comercial Thalomid R. Mas os seus desastrosos efeitos teratogênicos, obrigam a que, a sua administração esteja sujeita a um rigoroso sistema de controle pela FDA e pela Celgene, através de um "Sistema para a Educação sobre a Talidomida e Segurança da sua Prescrição" (S.T.E.P.S. - System for thalidomide education and precibing safety). Apenas médicos registrados no programa S.T.E.P.S., podem prescrever.
6º intervalo musical - "Nunca são indiscretas as perguntas. São, às vezes, as respostas". - Oscar Wilde.
As normas de segurança incluem informações acerca dos riscos relacionados com a terapia, conselhos para uma eficaz contracepção, uma declaração que deve ser assinada pelos doentes e pelos médicos, um questionário confidencial a ser preenchido pelo doente, antes, durante e após completar a terapia, entre outros ítens. O acesso a este fármaco é agora extremamente restrito.
Para evitar que os males do passado se repitam, o "Sistema para a Educação sobre a Talidomida e Segurança da sua Prescrição" dita, entre outras coisas, que os pacientes, homens e mulheres, se submetam a medidas contraceptivas obrigatórias. Às mulheres, é obrigatoriamente requisitado um teste de gravidez, nas 24 horas que precedem ao início do tratamento, devendo ser obviamente negativo.
7º intervalo musical - "Examinando os seus defeitos, cada um aprende a perdoar os dos outros". - Metastasio.
Por várias vezes, tem sido levantada a hipótese da talidomida conseguir provocar malformações, na descendência do indivíduos que foram expostos a este fármaco, durante a sua vida fetal. Vários cientistas defendem que não existe qualquer razão, para se pensar em qualquer pessoa, que tenha sofrido o efeito embriotóxico deste fármaco, apresente uma maior probabilidade de originar descendência com malformações congênitas. Para isto se verificar, ou as malformações ocorridas durante a gestação conseguiriam de alguma forma ser perpetuadas à descendência, ou para além de teratogênica, a talidomida deveria também ser mutagênica. A primeira hipótese está posta de parte, uma vez que, o Lamarkismo já há muito tempo, deixou de ser sustentado pelos cientistas. A possibilidade de ter características mutagênicas, também não está fundamentada, pela ausência de dados científicos. Portanto, as malformações congênitas não têm maior probabilidade de ocorrer em crianças descendentes de vítimas da talidomida, do que no restante da população.
8º intervalo musical - "O desejo vence o medo, atropela inconvenientes e aplaina dificuldades". - Mateo Aleman.
A talidomida é um derivado do ácido glutâmico, e estruturalmente contém dois anéis amida e um único centro quiral. Este composto existe na forma de mistura equivalente dos isômeros S (-) e R (-), que se interconvertem rapidamente em condições fisiológicas. O enantiômetro S está relacionado com os efeitos teratogênicos da talidomida, enquanto que o enantiômetro R é responsável pelas propriedades sedativas da mesma.
9º intervalo musical - "O maior desengano é o primeiro". - Campoamor.
Em 1991, um trabalho realizado por Dr. Gilla Kaplan, da Universidade Rockefeller, em Nova York, mostrou que a talidomida atua na hanseníase inibindo o fator alfa da necrose tumoral. Dr. Kaplan, em parceria com a Celgene Corporation, desenvolveu estudos para saber o potencial da talidomida. Pesquisas posteriores demonstraram que a talidomida é eficaz no tratamento do mieloma múltiplo (MM), e foi aprovado nos Estados Unidos, pela FDA, para uso nesta malignidade.
Estão em estudos novos tratamentos com a talidomida para doenças como o cancro, o câncer de medula e, já há algum tempo, para a hanseníase. O uso da talidomida é indicada em cerca de 60 tratamentos, para doenças como lúpus, alívio dos sintomas de portadores de HIV, diminuição do risco de rejeição em transplantes de medula e artrite reumatóide.
10º intervalo musical - "Não há desgraças para os corações débeis. A desgraça procura sempre os corações fortes". Dostoievski.
O uso da talidomida no Brasil é regulamentado pela Portaria SVS/MS nº 354, de 15 de agosto de 1997. No Rio de Janeiro, no ano de 2000, foi editada a Resolução SES nº 1.504, de 15 de junho de 2000, no sentido de criar um Grupo Técnico de Trabalho para implantação de Protocolo Terapêutico de Utilização da Talidomida. Pouco se sabe do uso da talidomida no Brasil. Segundo consta, a talidomida, por força da Portaria nº 354, é proibida para mulheres em idade fértil em todo o território nacional.
11º intervalo musical - "A fé compreende o que é invisível". - São Bernardo.
Em 26 de maio de 2006, a Food and Drug Administration (FDA), concedeu aprovação rápida para a talidomida (Thalomid, Celgene Corporation), em combinação com dexametasona, para o tratamento dos recém-diagnosticados com mieloma múltiplo (MM). Thalomid, como o medicamento é conhecido comercialmente, vendeu mais de US$ 300 milhões por ano, enquanto apenas aprovado para a hanseníase.
12 º intervalo musical - "Desgraçado é o homem que em nada crê". - Victor Hugo.
Em 2010, foi instituída a lei nº 12.190, que complementa a lei nº 7.070, de 1982, e representa gastos de aproximadamente R$ 34,5 milhões, como pensão especial, mensal, vitalícia e intransferível, aos portadores da deficiência. Serão 227 vítimas que vão receber R$ 50 mil em indenização, valor que aumentará, na medida em que ocorra dependência resultante da deficiência física. No Brasil somente o laboratório da Fundação Ezequiel Dias, está autorizado a produzí-la.
13º intervalo musical - "A fé é a força da vida. Se o homem vive é porque acredita em alguma coisa". - Leon Tolstoi.
O Brasil tem a segunda maior taxa de prevalência de hanseníase no mundo e a talidomida tem sido usada por médicos brasileiros, como a droga de escolha para o tratamento do eritema nodoso hansênico (ENH) grave, desde 1965. Um estudo publicado em 1994, encontrou 61 pessoas que nasceram depois de 1965, cujos membros estavam com defeitos e havia história de exposição compatíveis com embriopatia por talidomida. Em 63,6% desses casos, a talidomida tinha sido prescrita pelo médico, sem informar ao paciente sobre a teratogenicidade da droga.
Recentemente, um relatório publicado pelo Dr. Martin W. Johnson, diretor da Trust Talidomida, no Reino Unido, traz a prova detalhada que sugerem que a droga tinha sido desenvolvida como um antídoto para gases venenosos, como o sarin, desenvolvido na Alemanha, em 1944. Em 1954, a Grünenthal garantiu uma patente. Outras fontes sugerem que a talidomida pode ter sido sintetizada pela primeira vez por cientistas britânicos, da Universidade de Nottingham, em 1949. (1).
14º intervalo musical - "O homem forte cria os acontecimentos, enquanto o débil suporta o que lhe impõe o destino". - A. de Vigny.
(a*) Jacob Scheskin - O escriba ficou incrédulo ao ler na Wikipédia as informações sobre o uso da talidomida, em diversas enfermidades, como por exemplo no mieloma múltiplo (MM) e em certas doenças auto-imunes. Sobre o uso da teratogênica talidomida no tratamento da hanseníase, consultamos o livro do Dr. Ricardo Veronesi, e lá encontramos: "No tratamento da reação leprótica a talidomida (Scheskin, 1965) é indicada: 4 comprimidos de 100 mg ao dia, diminuindo-se progressivamente a dose quando a reação melhora. O medicamento deve ser contra-indicado, devido aos efeitos teratogênicos, às mulheres grávidas ou que possam engravidar. Os corticóides são úteis, mas devem ser usados só nos casos agudos ou de reação persistente e, ainda, quando a talidomida é contra-indicada". (2).
Observações: 1ª - Portanto, conforme consta na literatura médica, foi realmente o Dr. Jacob Scheskin , o pioneiro no uso da talidomida nos casos de hanseníase, por volta de 1965, embora a "comunidade científica" já tivesse conhecimento da ação teratogênica da talidomida. 2ª - Por outro lado, conforme já afirmamos em outros artigos, a auto-hemoterapia é absolutamente inofensiva, podendo ser usada no tratamento da hanseníase, de acordo com o que consta no DVD gravado pelo médico Luiz Moura (3). 3ª - E atenção pacientes leitores: no próximo artigo mais talidomida teratogênica. Não percam.
Bem amigos da rede AHT e amigas da rede Record. Se Deus nos permitir voltaremos outro dia. A todos desejamos um oceano de saúde, um mar de dinheiro, uma cachoeira de amizades, uma onda de felicidades, um rio de alegrias, um riacho de boas conversas, boa auto-hemoterapia, boa imunidade, bons macrófagos, boa visão, boa leitura e bom dia.
Aracaju, 18 de novembro de 2010.
Jorge Martins Cardoso. Médico. CRM 573
Fontes: (1) - Wikipédia - Categorias: Teratogênicos/Carcinogênicos/Imunoestimulantes. (2) - Doenças Infecciosas e Parasitárias - Editora Guanabara Koogan S. A. - Dr. Ricardo Veronesi e colaboradores - 5ª edição - 1972 - Parte III - Capítulo 40 (lepra) - página 396 - (1.096 páginas). (3) - DVD/2004 - Entrevistado: Dr. Luiz Moura - Roteiro, produção e direção: Ana Martinez e Luiz Fernando Sarmento - Duração: 2 horas e 37 minutos. |
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